Tocando a pedra abençoada da gruta |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Quantas vezes, sentado naqueles bancos de metal – sempre imaculados – que há diante da Gruta, eu ficava longos períodos, talvez horas, olhando os peregrinos passar, passar, passar, numa sucessão sem fim.
Que saudade!
Entretanto, diria alguém que ali não esteve: que banalidade!
Ficar ali sentado, vendo passar aquelas pessoas vindas de todos os cantos do mundo, com seus doentes, suas velas, seus papelinhos com pedidos, as fotos do parente ou do amigo, documentos, objetos de piedade e sei lá quantas coisas mais.
E, todos, todos colando sua mão bem espalmada na entrada na Gruta, e assim fazendo o percurso – que não é longo – até saírem.
No fim, a pedra transuda água. Não é a água da fonte e todo mundo sabe disso. É água natural que filtra não sei como pela pedra, muito devagarzinho.
Todo o mundo tenta pegar dessa água, molhar seu lenço, seu papelinho, seu pedido, a foto do parente ou amigo, fazer o sinal da Cruz com ela, etc.
E completado o rápido percurso, quantos se voltam 180º em direção à imagem da Gruta no alto, como que querendo prolongar um pouquinho uma prosa que aconteceu no fundo de sua alma com Nossa Senhora Ela mesma.
O último olhar |
E, entretanto, eu era um desses que percorria a Gruta toda com a mão espalmada, beijava a pedra úmida, molhava todos os lenços nela, e ainda me voltava para a imagem no fim, sem cessar.
Uma vez, duas vezes, dezenas de vezes, a todas as horas e com todos os frios, no dia e na noite.
O que há?
O que há é inefável, quer dizer, algo que não tem palavras que o descreva, mas que a gente sente no mais fundo da alma como uma voz que falou coisas que ninguém fala.
E vendo aquelas pessoas, eu percebia que elas também percebiam esse inefável, como que incomunicável.
VÍDEO: velas de Lourdes |
É uma graça que toca de um modo mais eminente do que outras graças.
A ação dessa graça comunica uma certa ordenação no espírito humano mutilado pela negação intencional do sobrenatural, pelo exagero incessante, quotidiano daquilo que é puramente material, interesseiro, até pecaminoso.
Tocando a pedra abençoada da gruta |
A gente, por assim dizer, é transportado sem esforço a um mundo todo feito de inefáveis.
A mão toca a pedra e colhe a umidade como que querendo apanhar esse imponderável e levá-lo para casa ‘preso’ no lenço ou papelzinho molhado.
A alma que vai passando vai se ordenando. É como se Nossa Senhora afagasse com mão suave, delicada e fresca nossas cabeças atrapalhadas, sarasse nossas feridas da alma, e dissesse para cada um palavras que a gente não sabe repetir.
Esse inefável ameniza o tenso, endireita o torto, restaura o quebrado, suaviza o endurecido, flexibiliza para o espiritual, amolece o empedernido, inspira confiança ao desesperado...
A atmosfera do inefável que cercou o dogma da Imaculada Conceição e as graças que vieram com Lourdes confirmando esse dogma, pouco mais ou menos chegam até nossos dias.
Hoje se pode dizer que as trevas tentam circunscrever o brilho imponderável de Lourdes.
Porém, esse brilho que não entra pelos olhos do corpo, mas pelo olhar da alma, continua se comunicando sem cessar a todos os que ali vão.
Há como que um verdadeiro arco voltaico de graças, um arco-íris sobrenatural, que vem desde Santa Bernadette e o Beato Pio IX no século XIX, em torno do dogma da Imaculada Conceição.
Mil e mil inefáveis de ordem sobrenatural emanam de Lourdes como um orvalho regenerador para a Humanidade.
"Perdão, minha Mãe, perdão! Andei mal!" Ela ouve sempre. |
Em qualquer lugar do mundo, olhando estas letras ou quaisquer outras que elevem nossa mente até Nossa Senhora, eu posso ser beneficiado por esse orvalho.
Mas é preciso eu me fechar para a má influência que me rodeia: materialista, pragmática, sensual, igualitária, cristofóbica.
É toda uma nova e boa educação para esses imponderáveis que me é necessária.
E então eu lembro das palavras de Santa Bernadette, quando ela se voltou para o povo no fim da 8ª aparição, num longínquo 24 de fevereiro:
―“Penitência, penitência, penitência!”; e “rezai a Deus pela conversão dos pecadores”, disse ela.
Esse pedido de penitência foi para cada um de nós. Para cada um de nós mudarmos de vida – cada um sabe no quê. E repetido três vezes, como quem diz: entendam bem, é para valer.
O “pecador” precisado de penitência não é o vizinho, nem alguém que a gente não sabe quem é – aliás, também sim.
Mas o primeiro “pecador” que precisa se converter é cada um de nós, sem exceção. Por causa desse “pecador”, Nossa Senhora veio a Lourdes e fez o pedido.
Entretanto, como é fácil essa penitência, essa mudança de vida, de disposições interiores, percorrendo a Gruta como acima está escrito.
A grande questão é nunca esquecer, sempre reavivar a lembrança, na vida quotidiana, sem cessar, pedindo a Nossa Senhora essa graça de nunca diminuir a saudade e a recordação.
E, para quem não foi a Lourdes, pensar em tudo isto e ter a confiança de que pensando nisto o orvalho de Lourdes chegará até onde estejamos e operará essa maravilhosa e inefável transformação em nós também.
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Eu fui à França, na região de Toulouse. Um dia, senti vontade de ir a Lourdes. Peguei um trem e lá cheguei. Olhei tudo. A Igreja, o pátio. Quando cheguei à gruta, passei pelas pedras, com sua água com consistência de uma lágrima. E me sentei nos bancos, olhando para a gruta e para o constante desfile de pessoas. E tive que fazer um esforço sobre humano para sair de lá! Algo nos prende, u mm a paz, uma harmonia! Quero voltar!!!!!
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