quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Senhora, perdoai as recusas de um mundo que expira!

Maria e José constrangidos a um estábulo
Maria e José constrangidos a um estábulo.
Que acolhida daremos ao Natal neste ano?
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs




A data de Natal se aproxima e já entramos no Advento, o período para preparar nossas almas para dar uma boa acolhida ao Menino Deus prometido aos Patriarcas e aos Profetas para nossa salvação.

Natal abre uma clareira alegre e tranquila no curso normal e laborioso da vida de todos os dias.

Na nossa época a trégua natalícia vale por um grande e universal apelo a uma humanidade tumultuosa e sofredora, que vai imergindo aceleradamente no caos da mais completa dissolução moral e social.

Nossa época é um vale sombrio entre duas culminâncias, a civilização do passado, da qual decaímos através de sucessivas catástrofes marcadas pela Revolução Protestante e pela Revolução Francesa, e culminaram com os totalitarismos da direita e da esquerda e a civilização do futuro, para a qual caminhamos através de lutas e de dissabores que enchem, a cada momento, de cruzes o nosso caminho.

A lição do Natal tem para nós um significado profundo, que devemos meditar no dia de hoje porque vivemos nos últimos minutos de um mundo que expira, e já vemos os sinais precursores de um outro mundo que nasce.

* * *

A humanidade pré-cristã nutria aspirações pela vinda de um Salvador.

O povo eleito esperava o Messias, nascido do tronco de David, conforme a promessa divina.

Todos os outros povos da terra conservavam uma reminiscência da promessa de um Salvador feita por Deus a Adão e Eva.

E por isto também eles conservavam, ora mais ora menos deformada, a esperança de um Salvador regenerador da humanidade sofredora e pecadora.

Roma discutia seu futuro, mas esse estava numa gruta de Belém
Roma discutia seu futuro, mas esse estava numa gruta de Belém
Quando Nosso Senhor veio ao mundo, toda a humanidade se sentia velha e gasta.

As fórmulas políticas e sociais já não correspondiam aos anseios dos homens do tempo.

Um imenso desejo de reforma sacudia os povos.

A luta de classes fervia na Grécia, na Itália, na Fenícia, em outros países ainda. A organização política se tornava cada vez mais opressiva.

A Cidade Eterna naquela época não era rainha, mas a tirana da humanidade inteira.

Em todos os países, o contraste entre a riqueza e a miséria era patente. De um lado, homens riquíssimos viviam no luxo desordenado. Do outro lado, uma multidão de sem-trabalho infestava as grandes cidades.

Milhões de escravos, acorrentados nos porões das naus ou atrelados como animais aos carros de transporte, gemiam sob uma opressão que parecia não ter mais fim.

Uma imensa corrupção de costumes punha em ruína todas as instituições políticas. Os escândalos se multiplicavam nas fileiras da mais alta plutocracia e se projetavam sobre toda a sociedade.

Augusto tentava em vão reagir, mas não surtiam efeito suas leis reacionárias. No seio de sua própria família as aberrações mais monstruosas se multiplicavam.

Todo o mundo sentia que uma crise imensa ameaçava a sociedade de uma ruína inevitável.

* * *

No estábulo de Belém,  raiou para o mundo a salvação, Jacques Daret (1401 — 1468), Petit Palais, Paris Musées, Gemäldegalerie, Berlin
No estábulo de Belém,  raiou para o mundo a salvação,
Jacques Daret (1401 — 1468), Petit Palais, Paris Musées
Enquanto homens de Estado e moralistas discutiam sobre problemas insolúveis, no estábulo de Belém, numa noite profunda, raiou para o mundo a salvação.

É possível que, no momento exato em que o Salvador nasceu, o orgulhoso imperador romano estivesse, em seu palácio, entregue às mais amargas reflexões pelo fracasso de sua política moralizadora.

É possível que perto da casa imperial se prolongasse pela noite adentro alguma daquelas orgias que eram o tema das conversas da época.

Nem o genial imperador, nem os sibaritas, tinham ideia do que naquele momento, ocorria em Belém.

Não era no palácio imperial, nem nas orgias, nem nos conciliábulos dos conspiradores, nem nas frases sem eco dos falsos sacerdotes, que o destino do mundo se decidia.

A sociedade do futuro nascia em Belém, e das mãos virginais de Maria o mundo recebia o Messias que haveria de redimir o mundo com seu sangue e reorganizá-lo com seu Evangelho.

* * *

Qual a lição primordial que daí devemos tirar?

É, em primeiro lugar que, a solução dos mais intrincados problemas sociais e políticos só se encontra em Cristo. 
 
E, em nosso tempo, as nossas esperanças só se podem concentrar no Corpo Místico de Nosso Senhor Jesus Cristo, a Igreja Católica.

A oração da Virgem Maria antecipou a Redenção, Masolino da Panicale  (1383 – 1447)
A oração da Virgem Maria antecipou a Redenção,
Masolino da Panicale  (1383 – 1447)
É possível que muito césar hodierno passe a noite de Natal indiferente à piedade das massas que deveriam estar orando nas Igrejas.

É possível que, nessa noite, as orgias de muita “danceteria” façam estrugir o silêncio da noite com músicas profanas.

É possível que muito conspirador esteja tramando a revolução e a guerra, no silêncio da noite, enquanto o povo comemora o nascimento do Príncipe da Paz.

Não é dos novos césares, nem dos conspiradores e muito menos da sociedade que se corrompe nas “boîtes”, que nos virá a salvação.

* * *

Os teólogos de outrora são acordes em que a salvação raiou pelas preces onipotentes de Maria.  
 
Ninguém pode dizer quantos anos ou séculos teria ainda demorado a Redenção, sem as preces da Santíssima Virgem.

A salvação veio da oração humilde e confiante da Virgem Maria, inteiramente ignorada por seus contemporâneos, e vivendo uma vida contemplativa e solitária, no pequeno recanto onde a Providência a fez nascer.

Por meio da oração e da contemplação, Ela antecipou a Redenção.

Deus dispensou o gênio de Augusto, o tino de todos os políticos, generais, financistas e administradores de seu tempo.

Quem mais beneficiou ao mundo não foi quem mais estudou, nem quem mais agiu, mas quem mais e melhor soube orar.

* * *

Se o mundo contemporâneo quiser sair do caos em que se encontra, ele deve, em primeiro lugar, voltar-se para Nossa Senhora.

Glória a Deus no Céu e paz na terra aos homens de boa vontade, capela de Nossa Senhora, Brixton, Londres
Glória a Deus no Céu e paz na terra aos homens de boa vontade,
capela de Nossa Senhora, Brixton, Londres
É com uma suave e austera lição, que se termina esta breve meditação de Natal.

Sobre tudo dos lutadores do catolicismo, das almas eleitas que Deus chamou ao estado sacerdotal ou ao religioso é que, no plano humano, pode depender a antecipação ou o retardamento da restauração do reinado social de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Nós, os leigos que militamos pela Igreja, devemos elevar uma prece junto ao presepe do Senhor Menino.

“Domine, adveniat regnum tuum”.

“Senhor, venha a nós o vosso Reino”, que nós o realizemos em nós, para que depois, com Vosso auxílio, o realizemos também em torno de nós.

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