quarta-feira, 3 de maio de 2017

O que sente um miraculado na hora do milagre? - 2

Jean-Pierre Bély descreveu com pormenor o milagr
Jean-Pierre Bély descreveu com pormenor o milagre
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






continuação do post anterior: O que sente um miraculado na hora do milagre? - 1



Sem dúvida, em cada caso as impressões variam muito em função das doenças e das situações.

Contudo, a descrição de um dois últimos milagres de Lourdes oficialmente reconhecido pela Igreja chega até nós com detalhes que arrepiam, comovem e inspiram uma reflexão.

Em 1987, Jean-Pierre Bély era um paraplégico em fase terminal. Hoje esbanja saúde. Ele descreveu sua miraculosa cura nos mínimos detalhes, com uma singeleza tocante.

Bély mora em La Couronne, perto de Angoulême, no interior da França. Na entrada da sua casa, uma gruta de Lourdes em miniatura recebe o visitante.

A mobília é discreta e tradicional, típica da pequena burguesia provinciana. Há uma imagem de Nossa Senhora e duas fotos: uma de Santa Bernadette e outra de Santa Teresinha. Tudo está arranjado despretensiosamente.



O ambiente nada tem de comum com o de místicos, visionários, ou alumbrados, os quais, infelizmente, não são poucos nestes conturbados dias de falsas aparições, pretensos prodígios e pseudo-revelações.

Ele nasceu em 1936. É casado e pai de dois filhos. Trabalhava como enfermeiro no hospital de Angoulême quando, em 1972, a doença manifestou nele seus primeiros sintomas. Começou a sentir fadiga, formigamentos nas mãos e nos pés. Numa manhã de 1984, acordou com todo o lado direito do corpo paralisado.

Era a esclerose em placa, enfermidade degenerativa do sistema nervoso que conduz a uma dolorosa morte. “É uma doença desmoralizadora — narra ele —, que avança aos pulos. A pessoa acredita sentir-se melhor, e depois, subitamente, o estado de saúde piora. Por fim eu tinha os punhos tão deformados, que já não podia mexer mais as mãos”. ( )

Em 1987, seu quadro clínico era desesperador. O sistema de saúde público o tinha declarado 100% inepto a título definitivo, e pagava um assistente para suas necessidades básicas como alimentação, higiene, etc. Ele era transportado em maca.

Filas de doentes na procissão em Lourdes, até sob a chuva
Filas de doentes na procissão em Lourdes, até sob a chuva
Em 5 de outubro daquele ano, Bély peregrinou a Lourdes. Quatro dias depois, tudo ia mudar.

A unção dos enfermos e a paz interior


Bély estava no fim da peregrinação, e só piorava. Seus acompanhantes temiam que morresse antes de voltar. Deixemos o miraculado descrever o que sentiu.

“Eu estava sobre a esplanada diante da Basílica, deitado numa maca. Era a cerimônia da unção dos doentes. O ambiente era extraordinário. Eu tinha a impressão de viver intensamente o momento. Após receber a extrema-unção, senti uma paz, uma alegria, uma serenidade extraordinárias. Como se tudo o que havia de mau na minha vida me tivesse sido tirado: meu esgotamento, minha ansiedade, meus escrúpulos...

“Eu estava exultante, desligado do mundo. Tinha a impressão de flutuar. Sentia-me alheio ao mundo. Meu corpo não interessava. Posso dizer que recebi a cura do coração antes que a do corpo. Essa paz, essa serenidade não me deixaram mais. E todos os dias tenho a impressão de reviver esse momento.

“Os maqueiros me levaram para o quarto. Quando me deitaram na cama, voltei a prestar atenção no meu corpo. [...] Senti frio. Não era um frio que vinha de fora, mas a impressão de afundar num buraco frio. Parecia-me que ia morrer. [...]

“Mas depois, de uma só vez, senti um calor nos artelhos, como uma luz longínqua que cresce, aquece e devolve a vida. Esse calor subiu progressivamente pelos meus pés, pelas minhas pernas, pelos meus músculos, por todo o meu corpo. À medida que ele ia subindo, era como se a vida voltasse. Eu tive a impressão de que era puxado pela pele das costas e tirado fora daquele buraco frio.

“Tudo isso deve ter sido muito rápido, mas eu não tinha noção do tempo. Num instante senti-me como que puxado para cima, e vi-me sentado à borda da cama, perguntando-me o que é que eu fazia lá.”


continua no próximo post: O que sente um miraculado na hora do milagre? - 3



Vídeo: Lourdes: o milagre de Jean-Pierre Bély







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Acompanhe online o que está acontecendo agora na própria gruta de Lourdes pela Webcam do santuário.

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