quarta-feira, 14 de março de 2012

Rue du Bac, La Salette, Lourdes e Fátima: uma corrente de apelos extraordinários de Nossa Senhora semi-ouvidos e semi-recusados (2ª parte)

Luis Eduardo Dufaur

Conferência pronunciada no Clube Homs, Av. Paulista, São Paulo, em 8 de fevereiro de 2012.

Continuação do post anterior

Na História da Igreja, Nossa Senhora apareceu e fez milagres públicos e retumbantes centenas ou milhares de vezes. Se pudéssemos contar as graças e os favores concedidos por Ela aos fiéis, precisaríamos contar milhões, mais provavelmente bilhões.

Nossa Senhora sempre intervém, para fazer bem aos indivíduos e aos povos que A invocam. Nas imensas vastidões do Brasil, nós A encontramos intervindo nos momentos chaves da formação do país. Nem é preciso falar de Nossa Senhora Aparecida, e de muitas outras invocações da Mãe de Deus no Brasil.

É o que também sucede em toda a América Latina: no ato da fundação de cada país, encontramos sempre um milagre ou uma aparição da Virgem, um fato ou uma devoção aglutinadora que é o coração de cada um de nossos países.


Basta considerarmos a aparição de Nossa Senhora de Guadalupe a um príncipe asteca – hoje São Juan Diego –, acompanhada do batismo de milhões de indígenas. Façamos um voo rápido do México à Patagônia, e por toda parte encontraremos uma manifestação extraordinária da Mãe de Deus, sobre a qual está fundado o sentimento da unidade nacional de cada povo.

* * *

Talvez nunca possamos fazer uma contagem exata das intervenções praticadas por Nossa Senhora na História. E isto vai continuar até o fim do mundo, provavelmente de um modo cada vez mais escachoante.

Mas nós vamos falar hoje de uma série excepcional de aparições. Nunca, em momento histórico algum, se verificou um tão grande, tão solene, tão retumbante ciclo de aparições de Nossa Senhora, advertindo, dando instrumentos sobrenaturais sem precedentes, pedindo, quase implorando aos homens uma inversão radical do mau caminho que haviam encetado.

* * *

Comecemos desde o início. Tudo se inicia na França, em Paris, a capital francesa, mais precisamente na Rue du Bac, num convento de freiras da caridade.

Mas por que na França?

São Pio X escreveu, ecoando a voz dos Papas que o precederam, que quando se trata da França, a Igreja Católica está em jogo. E afirmou que, quem atenta contra a França, atenta contra a Igreja, e quem louva a França, louva a Igreja, por um misterioso desígnio da Divina Providência, que quis vincular o destino dos homens e da sua Igreja ao da França.

A França é a filha primogênita da Igreja. Ela foi a primeira nação a se converter, imitando o exemplo de seu rei Clóvis. E durante séculos foi o braço armado que sustentou a difusão do Evangelho na Europa.

A França foi a primeira nação a consagrar fabulosas catedrais a Nossa Senhora. Dela vieram grandes apóstolos da devoção marial, como São Bernardo e São Luís Maria Grignion de Montfort – para citar só alguns.

No concerto das nações católicas, a França é como a irmã mais velha. E quando a mãe confia seus segredos, favores e graças torrenciais à sua filha mais amada, que precede a todas as outras, é para que elas cheguem mais efetivamente a toda a família, neste caso os povos católicos de todo o mundo.

* * *

Tudo começou numa noite, no remoto 18 de julho de 1830. Paris toda dormia. As freiras também dormiam quando a noviça Santa Catarina Labouré sentiu que alguém a acordava. Era um menino de quatro ou cinco anos de idade vestido de branco.

Ele lhe disse:

– “Minha irmã! Minha irmã! Vinde à Capela; a Santíssima Virgem vos espera”.

Santa Catarina foi. Por onde o misterioso menino avançava, as luzes ficavam acessas. Com a ponta do dedo, ele abriu a porta da capela sem tocá-la. A capela resplandecia na noite.

Sentada num troneto, Nossa Senhora assim falou:

– “‘Minha filha, o bom Deus quer encarregar-vos de uma missão. Sereis contraditada, mas tereis a graça; não temais … Os tempos são muito maus, calamidades virão precipitar-se sobre a França. O trono será derrubado. O mundo inteiro será transtornado por males de toda ordem. Mas vinde ao pé deste altar: aí as graças serão derramadas... sobre todas as pessoas, grandes pequenas, particularmente sobre aquelas que as pedirem... O perigo será grande, entretanto não temais”.

* * *

Todos entenderam. Nossa Senhora confirmou que a França tinha tomado o caminho errado. Após a Revolução Francesa de 1789, para muitos isso não era uma coisa nova.

O que era inteiramente novo era o fato de a Santíssima Virgem anunciar desenvolvimentos dos falsos ideais sensuais e igualitários da Revolução Francesa. Nossa Senhora advertiu que viria a explosão da chamada Comuna de Paris, que foi a primeira eclosão do comunismo na História, com suas sequelas de crimes, devastações, incêndios, profanações e sacrilégios. Aliás, Santa Catarina Labouré viveu o suficiente para atravessar aqueles dias de crime e revolução sem temer.

A Comuna de Paris foi o prefácio dos horrores gerados no século XX pela ideologia mais sangrenta da história humana. Historiadores insuspeitos calcularam no Livro Negro do Comunismo que o número dos mortos chegou a 100 milhões. Essas estatísticas estarrecedoras parecem para outros aquém da realidade.

Comuna de Paris: fuzilamento revolucionário do arcebispo de Paris
Na Rue du Bac, Nossa Senhora quis evitar esses horrores para a França, quis chamá-la a encetar o caminho de Damasco, quis que a “primogênita da Igreja” se reerguesse mais resplandecente do que nunca. E a França se reerguendo, seria todo o conjunto de nações católicas que seriam poupadas do caos e da anarquia moral que crescia no seio da “filha primogênita da Igreja”.

Resumindo, a Santíssima Virgem agiu na Rue du Bac como a boa mãe face ao filho que entrou pelo caminho da perdição. Ela o chama, lhe fala, mostra que ele se enveredou pelo caminho que conduz ao precipício, aponta-lhe as desgraças inomináveis que se acumulam no horizonte ...

Mais ainda, Nossa Senhora deu-lhe uma arma para sair da entalada.

E isso é a coisa mais surpreendente e inesperada. Ela lhe deu uma arma secreta exclusiva: a Medalha Milagrosa!

Fala-se hoje de armas de espantosa eficiência, projetadas nos laboratórios da mais alta tecnologia. Nenhuma dessas armas saídas das mãos dos homens pode, contudo, fazer algo semelhante ao que faz a Medalha Milagrosa: ela muda os corações dos lutadores!

Muda as propensões íntimas das almas que se abrem à sua influência, desmobiliza os piores inimigos, encoraja os mais pusilânimes, dá forças aos mais fracos, atrai graças sobrenaturais, concede ajudas inesperadas. Seu nome não poderia ser senão o de Medalha Milagrosa.

A Santíssima Virgem deu essa arma como prova de seu engajamento com a França e, pela França, com o mundo, para este mudar de rumo, abandonar os erros da Revolução Francesa e seus subprodutos futuros, quer dizer, o comunismo e o anarquismo moral que acabou penetrando na própria Igreja e destruindo a instituição familiar. Esta foi a penitência pedida por Nossa Senhora.

Continua no próximo post







2 comentários:

  1. Conceição de Maria15 de março de 2012 às 17:20

    Prezados Senhores,
    Tenho acompanhado os textos deste site e apenas para esclarecimento, refiro-me precisamente à data da aparição de Nossa Senhora à Sta. Catarina Labouré, onde os senhores citam como 19 e creio que foi 18, inclusive em 18 de julho de 2008 estive ali, naquela CAPELA, onde as irmãs comemoravam esta aparição.
    Atenciosamente,

    ResponderExcluir
  2. Prezada Conceição de Maria,
    Agradecemos a correção que um erro de datilografia tornou necessária.
    De fato a aparição, no relato de Santa Catarina Labouré, começou no dia 18 de julho às 23:30 quando o menino (um anjo) a acordou. E terminou por volta das duas da manhã, hora em que ela foi se deitar novamente, ouvindo o relógio tocar essa hora.
    A comemoração oficial é do dia de início, dia 18.

    ResponderExcluir

Obrigado pelo comentário! Escreva sempre. Este blog se reserva o direito de moderação dos comentários de acordo com sua idoneidade e teor. Este blog não faz seus os comentários e opiniões dos comentaristas. Não serão publicados comentários que contenham linguagem vulgar ou desrespeitosa.