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Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Na Albânia, no século XV, a religião corria grave risco: de um lado, o fervor da população católica estava em declínio; de outro lado, assaltavam-na com crescente furor as hordas dos invasores maometanos, cujo objetivo era destruir até à raiz a Fé católica em território albanês.
Para evitar a catástrofe, a Providência suscitara um herói comparável, pelo destemor e pela Fé, aos pares de Carlos Magno e aos batalhadores mais salientes das Cruzadas e da Reconquista luso-hispânica: Scanderbeg.
Enquanto ele viveu, a Albânia resistiu.
Ele morto, em seguida a feitos heróicos e gloriosos, a resistência albanesa se esboroou.
Explicável castigo para uma população atolada na tibieza.
Além de Scanderbeg ‒ e quão superior a ele ‒ havia na Albânia outro pilar da Cristandade abalada.
Era a Imagem ‒ um afresco ‒ de Nossa Senhora então chamada “dos Bons Ofícios” (invocação análoga à de Nossa Senhora Auxiliadora, hoje generalizada em todo o mundo católico).

Era o que se perguntavam com ansiedade dois devotos albaneses, Georgio e De Sclavis, dignos, representantes do que a Albânia ainda conservava de fiel.
A resposta a essa pergunta não tardou.
A Imagem se destacou lentamente da parede; ante os olhos atônitos dos dois devotos compatriotas do grande Scanderbeg.
Ela se alçou e foi prosseguindo em direção às águas do Mar Adriático.
E se foi deslocando sempre em igual direção, ao mesmo tempo em que fazia entender aos dois albaneses que queria ser seguida por eles.
Com Fé e estofo moral análogos aos de Scanderbeg, ambos os albaneses não hesitaram.
Foram caminhando milagrosamente sobre as águas, até que a Imagem atingisse o território da catolicíssima Itália.

Um mundo que desaba, vítima de sua crise religiosa e moral, mais ainda do que do vigor do terrível adversário.
Dois fiéis continuam a crer e esperar contra toda a esperança, e um milagre estupendo a coroar a perseverança deles: eis em síntese o esquema do até aqui narrado.
Em condições concretas muito diversas, o mesmo esquema se desenvolverá em traços muito largos, mas análogos, até nossos dias.
A ligar um esquema a outro, figura uma misteriosa e cruel provação, da qual são participes os dois valentes albaneses, mais uma idosa italiana, a Beata Petruccia, cujo valor de alma tinha proporção com os dois heróis, escolhidos por Nossa Senhora do Bom Conselho para Lhe constituírem imortal escolta de honra na travessia do Mar Adriático.
Com efeito, enquanto ambos os albaneses continuavam a seguir a Imagem pelo território italiano, esta... desapareceu.
E foi encher de celestes consolações a alma de Petruccia, então no auge de seu revés e de sua provação.
É o momento de dizer uma palavra sobre esta grande figura de mulher forte do Evangelho, que Nossa Senhora elegera para Lhe erguer o santuário mil vezes abençoado em que a Imagem dEla está exposta à veneração de incontáveis fiéis, desde há cinco séculos.
Era ela uma viúva dotada de alguns bens. Muito piedosa, fora favorecida com uma visão na qual a Santíssima Virgem a incumbia de restaurar a igreja de Nossa Senhora do Bom Conselho, em Genazzano, então ameaçada de ruir.
Para tal fim, Petruccia recorrera à caridade dos fiéis. Mas o atendimento destes deixara a desejar.
Animosa, resolvera ela então aplicar na construção o restante de seu patrimônio pessoal. Mas até mesmo este fora insuficiente, pelo que as obras ainda estavam longe de ter chegado ao termo.
Tal insucesso atraía sobre a Beata os sarcasmos injustos dessa mesma população que dera tíbio atendimento aos pedidos dela.
Mas Petruccia continuava animosa, apesar de seus oitenta anos, confiando com firmeza no auxílio da Santíssima Virgem.
Foi pois imensa e maravilhosa a surpresa dela, e a de toda a população de Genazzano, quando, na tarde do sábado 25 de abril de 1467, viram pousar sobre o lugarejo uma nuvem de aspecto admirável, da qual partiam os sons de uma música não menos bela.
Aos poucos, destacou-se da nuvem o quadro de Nossa Senhora do Bom Conselho, o qual foi pousar sobre o altar que, na previsão da futura conclusão das obras, Petruccia fizera erguer.
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